quarta-feira, 26 de novembro de 2008

HISTÓRIAS DE PEDRO MALAZARTE
A ÁRVORE QUE DAVA DINHEIRO de Ricardo Sérgio
Vendo-se apertado com a falta de dinheiro e não querendo ter arenga com o dono da pensão, Malazarte saiu, naquela manhã, bem cedo, para ganhar a vida. Arranjou com o vendedor de mel de jataí um bocado de cera, trocou na mercearia de Seu Joaquim a única nota de dinheiro, que lhe sobrara, por algumas de moedas de vintém e caiu na estrada. Caminhou por obra de uma légua ou mais, quando avistou uma árvore na beira da estrada. Chegando ao pé da árvore, parou e pôs-se a pregar os vinténs à folhagem com a cera que levava.
Não demorou muito, deu de aparecer na estrada um boiadeiro que vinha tocando uns boizinhos para vender na vila. E como já ia levantando um solão esparramado, a cera ia derretendo e fazendo cair às moedas. E Malazarte, fazendo festas, as apanhava. O boiadeiro acercou-se curioso, perguntou-lhe o que fazia, e Malazarte explicou:
— Esta árvore é deveras encantada, patrão. As suas frutas são moedas legítimas. Estou colhendo todas elas, porque vou me bandear pra outra terra e tou pensando em levar a árvore, apesar de todo o trabalho que vai me dar.
— Não me diga isto, sô!
— É o que eu lhe digo, patrão!
— Diacho, se lhe vai dar tanto trabalho...
E o boiadeiro propôs comprar a árvore encantada. Malazarte, depois de muitas negaças, fechou negócio trocando a árvore pelos boizinhos; em seguida, bateu pé na estrada, vendendo-os na vila por um bom preço.
O boiadeiro mandou alguns de seus peões retirarem, com todo o cuidado, a árvore encantada e replantou no pomar do seu sítio. Daqueles anos até hoje, está esperando ela dar moedas de vinténs.
Esta é mais uma história de Pedro Malazarte que colhi na oralidade de minha cidade e a transcrevi de acordo com o meu entendimento; pois, qualquer anotação naquele momento, quebraria o encadeamento da narrativa. Aí está mais uma prova de que a oralidade continua viva e sonora; alimentada pelas fontes perpétuas da imaginação e continuadamente relembrada pelas pessoas que conhecem o valor da sabedoria popular.

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